O mundo foi dormir ontem com uma notícia nada surpreendente, mas ainda assim, difícil de engolir:
A Argentina escolheu um meme da vida real como presidente pelos próximos 4 anos.
Um Bolsonaro da Shopee, um Trump da Shein, um cara que parece aquele seu amigo que acredita em toda conspiração possível e cheira a Fandangos.
E ainda que seja preocupante ver uma pessoa claramente abublé das ideias vencer as eleições por lá, fica difícil julgar muito. O outro candidato era justamente o Ministro da Economia que ajudou a colocar o prego na tampa do caixão deles.
Escolher entre esses dois é algo similar a uma cena do filme Cidade de Deus:
Gosto bastante da Argentina.
Já tive a oportunidade de visitar o país boas vezes, visitar outras cidades além de Buenos Aires e conhecer muita gente maravilhosa. Inclusive passei minhas últimas férias por lá, um mês atrás.
Foi durante essas férias que passei por uma experiência que levou ao e-mail do assunto de hoje: O que comem os gays.
Durante os dias que passei em Buenos Aires, fiquei hospedado em um apartamento maravilhoso.
O sol da manhã entrava pelas janelas gigantescas da sala, as paredes e teto eram bem rústicos e havia quadros enormes espalhados pelo ambiente. Além de todo o conforto e clima leve do apartamento de San Telmo, havia ali também uma pequena biblioteca com diversos livros de culinária. Um deles me chamou a atenção:
"Entiendes de Cocina?"
O nome na lombada do livro me fisgou e eu não imaginaria qual seria o subtítulo:
"Lo que comen los gays!"
Mil questões passaram pela minha cabeça. Até porque grande parte dos meus melhores amigos e amigas são LGBT e nunca vi nenhum deles comendo algo que eu não soubesse o que era.
Será que havia um manual escondido da gastronomia LGBT assim como existe um mundo secreto dos brinquedos em Toy Story?
O que eles comem quando os héteros não estão presentes?
Não resisti e abri o livro.
Você e eu sabemos bem. Na verdade, todo mundo sabe muito bem o que os gays comem, e foi exatamente aquilo que o livro mostrou:
As mesmas comidas que os héteros comem. O livro só brincava com releituras de receitas como o "tiramisú eréctil" e coisas do tipo, era uma pegada com algumas gírias da comunidade, uma brincadeira de narrativas e analogias.
Mas aquele livro era o exemplo perfeito da resposta a uma das maiores questões atuais: como vencer a disputa por atenção?
Como captar o olhar de quem assiste a um vídeo, vê uma mensagem sua ou passa horas e horas deslizando pelo feed? Como fazer as pessoas prestarem atenção no que você tem a dizer?
Existem infinitas estruturas e táticas para fazer um bom título, mas o problema é que se apenas o título for interessante, a pessoa não vai se manter interessada no conteúdo.
É como ver alguém de olhos azuis dizendo que a Terra é plana. Logo, você precisa conduzir a mensagem quase como uma dança, mesmo que, assim como eu, você não saiba dançar.
Minha tática preferida de conteúdo é atrair a atenção pela curiosidade, desviar um pouco do tema, chegar perto da resposta, desviar novamente e então responder a questão levantada, junto com uma nova descoberta.
No marketing, algo parecido com isso é a clássica estrutura AIDA (Atenção, Interesse, Desejo, Ação), sendo que o último A é um Call to Action. O que aprendi com o tempo é que Youtubers, autores e bons jornalistas mudam o sentido do D para Descoberta em vez de Desejo.
Então você chega por uma pergunta (A¹), passa pelo contexto e se interessa pelo conteúdo (I), no meio do caminho, descobre algo novo (D) e então realiza uma ação (A²).
Com bastante treino, isso funciona onde você quiser!
Quando o Mark Rober cria um vídeo chamado "Backyard Squirrel Maze 2.0 - The Walnut Heist" (algo como "Labirinto Caseiro de Esquilos 2.0 - O Roubo de Nozes"), você clica pela premissa dos esquilos em um labirinto, mas descobre fundamentos básicos de física enquanto se interessa pelo tema.
Maravilha, como aplicar na vida real?
Passo 1:
Seja lá qual for o assunto a ser abordado, pense em uma analogia muito fácil de entender (viu aquele exemplo da pessoa de olhos azuis ou aquele de Toy Story?). Analogias são atalhos para o entendimento e ajudam a construir um bom storytelling, e o segredo para boas analogias é: vivência, repertório.
Passo 2:
Quais assuntos interessam ao outro lado? Quais são os desejos, dores, questões pelas quais a outra pessoa (sua chefe, sua equipe, seus amigos) se interessa, e como criar um gancho com a analogia? Isso aqui costuma ser um passo bem chato no começo, demora de acertar, mas vale o esforço.
Passo 3:
Testar até cansar. Uma boa headline vai precisar de pelo menos 8 ou 10 tentativas de escrita até ficar boa. Por isso, o mais prático é construir a ideia primeiro e chegar ao título depois!
Aqui fica um truque: grande parte das boas headlines são perguntas, ou então afirmações que geram perguntas. Como essa:
O que a Sandy quer dizer com isso?
Quais são as coisas que ela começou a fazer?
Quais os outros rótulos que ela odeia?
Por aí vai.
Tem que praticar e praticar até encontrar seu ritmo e estilo.
E por que isso importa?
Porque em uma realidade na qual você tem no máximo 3s para captar a atenção de alguém, táticas simples de escrita podem ser a diferença entre ser ignorado ou atingir uma meta.
E porque é divertido! Eu duvido que você chegaria até aqui se a headline do e-mail fosse "como captar a atenção" em vez de "o que comem os gays".
E mais uma vez, um excelente conteúdo com uma baita aula sobre o AIDA.
Muito bom!!!